
A Dor da Demissão
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- 9 de out. de 2024
- 5 min de leitura
A demissão não é só a ruptura com o emprego. É o luto por uma rotina que, de repente, não existe mais. É o luto pela perda dos clientes que confiavam em você, pela equipe com quem você compartilhava vitórias e desafios diários, e pelo sentimento de que você fazia parte de algo maior. Quando tudo isso é tirado, sem aviso e sem uma oportunidade de despedida, surge a sensação de não pertencimento. E essa é uma dor difícil de explicar, mas que muitos já sentiram.
Após a demissão, a sensação de ser descartado, de não receber uma despedida, de ser ignorado pelas mesmas pessoas com quem você convivia diariamente, pode parecer cruel. É como se, de uma hora para outra, você não fosse mais parte daquele universo, e isso gera um luto silencioso e doloroso.
A Ciência do Cérebro e o Processo Emocional
Do ponto de vista neurocientífico, a demissão desencadeia um processo emocional profundo que envolve várias áreas do cérebro. A exclusão social ativa o córtex cingulado anterior, uma região associada à dor física e emocional. Isso explica por que o sentimento de não pertencimento pode literalmente doer como uma ferida física.
A demissão também ativa o sistema límbico, especialmente a amígdala, responsável por processar emoções como medo e estresse. Quando nos sentimos ameaçados – seja por perder nosso emprego ou por ser excluídos de um grupo –, a amígdala dispara, gerando uma resposta de "luta ou fuga". Isso leva à liberação de hormônios como o cortisol, conhecido como o hormônio do estresse, o que pode afetar diretamente nossa capacidade de raciocínio lógico e tomada de decisão.
Este ciclo de estresse pode durar dias, semanas ou até meses, dependendo da intensidade da experiência. A neurociência nos mostra que, após uma experiência traumática como a demissão, o cérebro precisa de tempo para processar e se reorganizar. Em média, o processo de recuperação emocional pode levar de seis meses a dois anos, dependendo do suporte emocional que a pessoa recebe e das estratégias de autocuidado que adota.
O que pode acelerar essa recuperação é a prática de atenção plena (mindfulness) e autocompaixão, que têm o poder de regular a atividade da amígdala e fortalecer o córtex pré-frontal, a área responsável pelo controle emocional e pela tomada de decisões conscientes. Essas práticas ajudam a reduzir o cortisol no corpo e a restaurar o equilíbrio emocional mais rapidamente.
O Papel da Autocompaixão na Cura
Nesse momento, a autocompaixão se torna essencial. Quando não encontramos apoio no ambiente externo, precisamos aprender a nos apoiar internamente. Autocompaixão não é fraqueza; é uma maneira de tratar-se com gentileza quando as coisas desmoronam.
Kristin Neff, uma das principais pesquisadoras no campo da autocompaixão, nos lembra que somos todos humanos e falíveis, e que momentos de dor e falha fazem parte da experiência humana. Quando praticamos autocompaixão, permitimos sentir a dor sem nos julgar. Em vez de nos tratarmos com críticas severas, começamos a nos tratar com a gentileza que oferecemos a um amigo. E, em tempos de demissão, essa prática pode ser transformadora.
O Luto pela Rotina, Clientes e Equipe
Além de lidar com a falta de despedidas, há também o luto pela rotina perdida. Durante anos, seu trabalho foi uma parte central da sua vida. Acordar todos os dias, encontrar sua equipe, atender seus clientes, resolver problemas. Essa constância dá sentido e estrutura às nossas vidas. E, quando tudo isso é tirado, não é só a perda de um trabalho; é a perda de uma parte de quem você era naquele espaço.
A relação com os clientes também é um ponto de luto. Se você, assim como eu, se dedicou de corpo e alma ao trabalho, construiu relacionamentos de confiança com seus clientes. Ver esses laços rompidos, muitas vezes sem aviso, é devastador. A equipe, que se tornou quase uma família, de repente parece distante, e você se vê sem o apoio e a troca diários que antes sustentavam sua jornada profissional.
Transformando a Dor em Crescimento com Autocompaixão e Atenção Plena
Apesar de tudo isso, a demissão também pode ser uma oportunidade de transformação. Quando nos permitimos sentir a dor, sem fugir dela, conseguimos processar o luto e nos abrir para novas possibilidades. A autocompaixão e o autoconhecimento são ferramentas poderosas para transformar a demissão em um ponto de inflexão na sua vida.
Além disso, o poder da atenção plena (mindfulness) e da autocompaixão também nos ajuda a ampliar nossa consciência emocional e a fortalecer nossa janela de tolerância – ou seja, nossa capacidade de lidar com o estresse e as adversidades sem nos deixar consumir por eles. Essas práticas são fundamentais para o desenvolvimento da inteligência emocional, uma habilidade cada vez mais crucial no ambiente de trabalho moderno.
Quando você pratica autocompaixão, começa a ver que a demissão não define quem você é. Ela é apenas um momento de sua jornada, não o destino final. Com o tempo, você pode redescobrir seus valores, suas paixões e encontrar novos caminhos que tragam um sentido renovado de propósito.
Práticas de Autocompaixão para Lidar com a Demissão
1. Permita-se sentir o luto: A demissão envolve perda. Não se apresse em "superar" isso. Reconheça que você está passando por uma transição emocional profunda.
2. Trate-se com gentileza: Em vez de se criticar ou se culpar, pratique a autocompaixão. Pergunte-se: "Se fosse um amigo passando por isso, o que eu diria a ele?"
3. Reconheça que você não está sozinho: A experiência da demissão é comum a muitas pessoas. Entenda que essa dor faz parte da experiência humana.
4. Pratique o mindfulness: Observe suas emoções sem julgá-las. Aceite-as como parte do processo de cura, sem se deixar afundar nelas.
5. Reavalie seus valores e propósito: Use esse momento para redescobrir o que realmente importa para você. Quem você deseja ser além do trabalho? O que te motiva e te apaixona?
Sua Demissão Não Define Você
Ser demitido é uma experiência devastadora, mas também é uma oportunidade de se reconectar com quem você realmente é. Sim, a dor de não pertencer mais a um grupo de pessoas, de perder a rotina, os clientes e a equipe, é real e válida. Mas essa dor não precisa ser o fim da sua história.
Através da autocompaixão e da atenção plena, você pode começar a curar essa ferida e redescobrir o valor que sempre esteve dentro de você. Essas práticas ampliam sua janela de tolerância, fortalecendo sua inteligência emocional, e te ajudam a lidar melhor com as adversidades do mundo profissional.
Lembre-se: Você é muito mais do que seu cargo, seus colegas e clientes embora mantiveram contato diário não são seus amigos íntimos.
E, ao longo dessa jornada, é possível transformar essa dor em um caminho para um futuro mais autêntico e alinhado com quem você verdadeiramente é.
Margareth Figueiredo Psicanalista, Especialista em Neurociência, Psicologia Positiva e Ciência da Felicidade Mentora e Consultora em Desenvolvimento Humano, Diversidade de Gênero e Parentalidade Corporativa





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